Fracasso da Rodada pode servir de combustível para alta dos preços dos alimentos

A falta de ofertas consistentes na área agrícola dificulta cada vez mais a consolidação de um acordo na Rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio). Para o presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Gilman Viana Rodrigues, o cenário observado nas negociações aponta para mais um adiamento de uma decisão que resulte na abertura do comércio mundial. Para ele, uma análise técnica do assunto mostra que é difícil sair um acordo. “Gostaria que houvesse um acordo justo, mas o que tem sido oferecido é modesto”, afirma Viana. Segundo ele, apenas quem aplica subsídios e altas tarifas agrícolas continuará ganhando se os encontros entre os ministros, reunidos desde segunda-feira em Genebra, na Suíça, não tiverem um desfecho. No caso dos produtos agrícolas, ele avalia que um novo fracasso nas discussões sobre maior flexibilidade de acesso a mercados “servirá como combustível para uma alta no preço dos alimentos”. Segundo Gilman Viana, a liberalização do comércio seria uma oportunidade para abastecer o mercado mundial de produtos agrícolas em um momento de alta de demanda e queda de oferta. “Esta restrição ao comércio será revertida apenas quando realmente houver um desequilíbrio no abastecimento. Quem tiver, receberá mais”, afirma. No caso brasileiro, enfatizou que o país é um dos que mais perdem, pois o acesso a novos mercados é fundamental para o Brasil aumentar a quantidade de parceiros comerciais. No entanto, pondera que as contrapartidas oferecidas por países desenvolvidos para abertura do setor industrial brasileiro, em troca da redução de subsídios, “é o mesmo que não querer fazer acordo”. O presidente da Comissão de Comércio Exterior da CNA justifica que o agronegócio tem obtido saldos positivos superiores aos demais setores da balança comercial total do país. “Se tirarmos o agronegócio da balança, haverá déficit. A liberação do setor agravaria este déficit”, argumenta. Gilma Viana diz, ainda, que a abertura de novos mercados disciplinaria o uso de subsídios. Ele explica que, em um período de preços baixos, um provável acordo agrícola, ainda que longe do ideal, seria extremamente necessário para pressionar países ricos a não utilizar subsídios e continuar distorcendo o mercado. Em momento de quedas de preços, os países tendem a aumentar os gastos com subsídios e subir proteções tarifárias, para proteger a renda de seus agricultores. Segundo o representante da CNA, um acordo agrícola funcionaria como um seguro contra um futuro período de preços baixos. Para ele, apenas a adoção de tetos de subsídios por produto, oferecida pelos Estados Unidos, foi um ponto elogiado pelo setor agrícola, pois evitaria que os recursos não destinados integralmente a uma atividade fossem destinados a outra cultura, evitando a concorrência desleal. Os produtos brasileiros que poderiam ser favorecidos com a medida seriam algodão, milho e soja. CNA

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Atualizado em: 8 de outubro de 2018

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