China e Índia querem mais proteção e recusam acordo

Os promissores e bilionários mercados de China e Índia se transformam no centro da discórdia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, os debates acalorados entre os ministros giraram em torno do direito de Pequim e Nova Délhi de manter barreiras aos produtos agrícolas. Na avaliação desses mercados, a Rodada Doha não poderia resultar numa abertura de suas economias, nem mesmo para as exportações de outros países emergentes. Para o Brasil, a manutenção das barreiras nesses dois mercados significaria a conclusão da Rodada Doha sem o acesso às economias que mais crescem e onde o consumo mais promete gerar lucros no setor agrícola. Se a demanda de China e Índia for aceita, as exportações nacionais de soja, carnes, algodão, açúcar e outros produtos agrícolas seriam diretamente afetadas. Não por acaso, o chanceler Celso Amorim se apressou a propor uma solução para o impasse. A iniciativa envolveria uma nova fórmula para calcular em quais situações os países emergentes poderiam ativar barreiras. Para o governo americano, só haveria um corte em seus subsídios se os produtores dos Estados Unidos fossem compensados com maiores possibilidades de exportar. Para isso, precisam ver as barreiras chinesas e indianas removidas. A idéia original do pacote de acordo da OMC era de que um país pobre pudesse estabelecer uma tarifa extra de 15 pontos porcentuais se houvesse um surto de importação de 40% em seu mercado. Essas condições foram consideradas aceitáveis, tanto pelo Brasil como pelos Estados Unidos. Os dois países estão entre os que mais apostavam na Rodada para abrir mercados. Segundo reportagem de Jamil Chade, do jornal O Estado de S.Paulo, Índia e China, apoiadas por africanos e um grupo de asiáticos, além de Venezuela e Bolívia, se recusaram a aceitar o pacote e pediram mais proteções. A idéia era poder acionar as novas taxas com um surto menor de importações. Para o grupo de países em desenvolvimento, a idéia é de que uma alta de apenas 10% na importação seja suficiente para elevar a taxa. Na prática, isso significa que a atual expansão das exportações do Mercosul seria fortemente atingida. Na soja, a alta foi de 20% em um ano, o que justificaria a barreira. Brasil, Chile, México, Uruguai, Paraguai e Argentina foram contrários à proposta, que criaria barreiras a alguns dos mercados que mais crescem no mundo. Americanos e europeus também deixam claro que não podem aceitar a barreira. "Não vamos hipotecar nosso futuro. Como vamos voltar a nossos países e alegar que não conseguimos acesso aos mercados que mais crescem e até vamos sofrer redução nas exportações?", disse o embaixador do Uruguai na OMC, Guillermo Valles. De acordo com notícia da Folha de S. Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse estar otimista sobre a conclusão da Rodada Doha. Segundo ele, é melhor acordo menos ambicioso que nenhum acordo. "Não ter acordo é sempre muito frustrante para quem está negociando. Uma abertura, mesmo que não seja nos níveis que queremos, é um avanço."

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Atualizado em: 8 de outubro de 2018

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